A Política Nacional de Assistência farmacêutica está pautada em dois grandes pilares: o acesso ao medicamento e o uso racional do mesmo pelo paciente. Para isso, faz-se necessário a inserção do farmacêutico em todos os segmentos ligados ao medicamento, visto ser esse, o profissional do medicamento.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), existe uso racional quando os pacientes recebem os medicamentos apropriados à sua condição clínica, em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período de tempo adequado e ao menor custo possível para eles e sua comunidade. Porém, dada à extensa propaganda, o grande número de produtos lançados no mercado sem necessariamente significar melhora para o paciente, a conduta dos prescritores de prescrever sem estar devidamente cercado de informações científicas quanto ao uso racional de medicamentos, normalmente isso não acontece.
Segundo Brundtland et al., (1999) 15% da população consome mais de 90% da produção farmacêutica, 25-70% do gasto em saúde nos países em desenvolvimento correspondem a medicamentos, comparativamente a menos de 15% nos países desenvolvidos, 50-70% das consultas médicas geram prescrição medicamentosa, 50% de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou usados inadequadamente e 75% das prescrições com antibióticos são errôneas.
Esses dados refletem o real perigo a que estão expostos os usuários do Sistema Único de Saúde Brasileiro, visto que, todas as Unidades de Saúde, sejam elas públicas ou particulares fazem parte desse grandioso sistema. Como conseqüências dessa prática danosa têm-se então a progressão da patologia, iatrogenia, aumento da incidência de efeitos adversos, uso inadequado de doses, vias, intervalos de administração e/ou tempo de tratamento, aumento do tempo de tratamento e custos, não adesão do paciente ao tratamento e, portanto, insucesso terapêutico.
Paralelo a essa prática tem-se a automedicação não preconizada pela OMS e ainda o risco de desenvolvimento de resistência bacteriana quando do uso inadequado de antibióticos. Prática essa que compromete não só a terapêutica, como também o meio ambiente e as gerações futuras, reduzindo consideravelmente o arsenal terapêutico disponível para tratamento.
Desta forma, faz-se necessário cada vez mais formar farmacêuticos aptos ao trabalho com esta nova realidade. Inseri-los nesta política é um dever das entidades de formação, lembrando sempre que: Medicamento é como gente. Tem qualidades e defeitos.
As qualidades ? a gente admira, os defeitos ? a gente agüenta ou não. Por isso, podemos ficar, (usar eventualmente), namorar, (usar por determinado tempo) ou até casar com algum medicamento (para o resto de nossas vidas). Mas ele deve atender ao nosso jeito de ser (eficácia para a condição clínica), deve ter uma convivência regrada (dose e tempo de tratamento) e não deve proporcionar mais problemas do que aqueles que já temos (custo econômico e reações adversas).
Texto de Francimar Leão Torres, Farmacêutica, Mestre em Medicina e Saúde, Professora de Química Farmacêutica II do Curso de Farmácia das Faculdades Integradas Aparício Carvalho – FIMCA.
Fonte: Assessoria de Imprensa FIMCA